terça-feira, 21 de junho de 2016

Eu vejo na TV o que eles falam sobre o esporte não é sério. O esporte no Brasil não é levado a sério.





Se tem um segmento no Brasil que parece não conseguir evoluir, esse é o esporte.
É angustiante ver o potencial e a falta de competência que permeiam esse cenário.
Desde modalidades pequenas até gigantes, como o tão aclamado futebol, não conseguem aproveitar em quase nada o potencial de suas atividades. O futebol desperta paixão, emoção, e mesmo assim é lamentável ver como é tratado no país que se diz “o país do futebol”.
Enquanto outros centros descobriram há anos como gerar receitas através dessa paixão o Brasil permanece empacado. Os clubes são dependentes de cotas de TV e patrocínios em seus uniformes. Não são capazes de gerar receitas extras sustentáveis.
Aí você pode alegar: “- Ah, o clube x tem um programa de sócio torcedor, que gera receita pro clube, tem não sei quantos mil sócios e blá blá blá”. Ok, mas e aí? O que é feito com esse público potencial? Se contentar com essa pequena fatia de receita já está bom?
Aí me vem a pergunta: o que estimula o torcedor a pagar por um programa desses? A única resposta que me vem a mente é: paixão. Só isso. Os clubes são incapazes de gerar atrativos que realmente sejam interessantes aos associados. O que faz com que um torcedor afastado da capital pague mensalmente por um programa de sócio torcedor?  A opção de comprar ingressos? De garantir preferência? Mais uma vez, e daí?  Isso vale para uma pequena parcela de torcedores desse clube. Clubes com milhões de torcedores comportam no máximo 40 mil (?) por jogo? E o restante dos associados? O que ganham com isso?  A s políticas dos clubes é muito rasa. Ainda se pensa apenas no que se pode receber do torcedor, e não o que se pode receber com ele. Um torcedor de Presidente Prudente tem qual estímulo para pagar o sócio torcedor dos times da capital? Quantas vezes por ano ele vai conseguir aproveitar os benefícios gerados por essa mensalidade?
Os grandes clubes ainda podem contar com esse pequeno aporte, mas e os pequenos? Portuguesas, Oestes, Noroestes e muitos outros não podem ser dar ao luxo nem dessas migalhas.
Saindo do futebol e indo pra outros esportes que também tem grande apreço pelos brasileiros, o vôlei e o basquete. Como sobrevivem essas equipes? Totalmente por conta de patrocínios e migalhas de direitos televisivos. A bilheteria é quase que insuficiente para pagar os custos dos jogos. É muito triste ver essa exclusiva dependência. Num dia você está disputando título nacional, no outro você está rescindindo contrato de todos os jogadores. Isso aconteceu com o Bauru Basket Team. Simples assim. O patrocinador máster decide retirar o patrocínio, com a desculpa de que o país está em crise, e tudo vem por água abaixo num piscar de olhos. Essa é a realidade de todas as equipes. Ano passado foi Franca, Limeira, agora com Bauru. Numa equipe que conta com 5 jogadores de seleção brasileira.
No volêi mesma coisa. A cada ano os atletas vivem a incerteza se estarão ou não empregados na próxima temporada, onde estarão morando, onde a equipe desembarcará caso outro patrocínio assuma a conta.
Nem vamos entrar em detalhes de esportes olímpicos que trazem expressivos resultado ao Brasil e a realidade é ainda pior, como judô, atletismo, etc. Esse é um ano olímpico. Alguém aí está animado e esperançoso com as medalhas que o país pode ganhar? Era pra ser um evento memorável, em que todo um país estaria ansioso com seu acontecimento. As marcas estariam explorando ao máximo o poder do esporte, de transformação social, de melhorias no país. Ledo engano.
Cada vez que vejo uma final de NBA, de Super Bowl, de Euro, de Champions e por aí vai, bate aquela síndrome de vira latas, sabe? Por que o dos outros é tão melhor que o nosso?
Você percebeu a diferença entre a Eurocopa e a Copa América? Mesmo essa sendo realizada nos EUA? Pois é.
O problema é muito, muito maior do que Dunga ou Tite como técnicos da seleção. Do que Bernandinho ou Zé Roberto. Começa no alto. Quando se tem um ministro dos esportes que foi indicado apenas por politicagem. Um presidente de entidade máxima do futebol do país investigado por corrupção, que não pode sair do país, por dirigentes de clubes que só estão ali por prestígio, por empresários que só querem encher o bolso e se aproveitar dos clubes, por formadores da base que só querem tirar dinheiro de quem está começando, com a promessa de que vai chegar lá.
Voltando ao Bauru Basket, quando vejo a segunda equipe do Brasil tendo que mudar de cidade para jogar uma final de campeonato, pois a sua não tem um ginásio com infraestrutura mínima, perco um pouco a fé no esporte. Aliás, no esporte não. Esse é transformador. Perco a fé em quem administra tudo isso. Em todas as instâncias.
É preciso uma mudança cultural, e é aí que está o problema. É preciso com que todos enxerguem o esporte com o potencial que ele tem. Desde a maior rede de TVs, que por perceber esse desespero dos clubes por migalhas antecipadas de cotas, continua a explorar os clubes e o esporte, até as pequenas associações municipais que organizam seus campeonatos.
Infelizmente aqui o esporte é só um grande cabide de empregos.

De qualquer forma, sou amante do esporte. Assisto até campeonato de burquinha no carpete. Vamos em frente, sempre com um pouquinho de esperança. 

segunda-feira, 16 de maio de 2016

A propaganda e suas incertezas

Desde quando ingressei nesse maluco e encantador mundo da propaganda, há uns 12 anos, venho percebendo as inúmeras mudanças que o mercado vem sofrendo. É um tempo muito pequeno, porém, já percebi muitas alterações de cenário. O fortalecimento da mídia na internet foi basicamente nesse período. Já vi a ascensão e morte do pop up, dos banners, do bate papo do Uol, da AOL, do Napster, do Orkut, do MSN do ICQ de alguns importantes portais de acesso, do Cadê, dos sites de balada, e por aí vai. Meus primeiros sites eram feitos em html puro. Escrevia todo o código só pra depois ver o resultado.

Nesse período, a publicidade e propaganda foi fortemente afetada pelo avanço das novas mídias, mas principalmente pelo comportamento do consumidor.

O modo de se fazer propaganda e se comunicar com os clientes mudou, e mudou muito. Nesse tempo já ouvi diversos profetas do apocalipse gritando que a internet acabaria com a mídia tradicional, que isso e aquilo. Ainda acho que isso ainda levará tempo a acontecer, se é que vai, mas as incertezas começam a ficar maiores.

Hoje a principal preocupação do setor não é mais a grande ideia, que foi o que sempre pautou esse mercado, mas sim, como sobreviver às mudanças, como não sair do jogo, ou melhor, ser jogado para fora dele.

O modelo, até hoje consagrado, da publicidade brasileira é posto em xeque. O formato de remuneração das agências dá claros sinais de desgastes, e o pior, as agências não sabem como fazer diferente. Num recente relatório da Fenapro (sugiro a leitura, link nas referências), esse medo é mostrado da maneira mais crua que se possa imaginar. As mudanças no mercado reforçam isso. Marcello Serpa deixando a Almap, Justus vendendo todas as suas ações da Newcomm, Celso Loducca vendendo sua parte na Loducca, e a última notícia que vi foi Fábio Fernandes preparando terreno para venda de suas ações da F/Nazca. Isso poderia parecer normal, mas não é. As principais lideranças do setor nas últimas décadas, premiadíssimas e com carreiras de absoluto sucesso, vêm repensando o modelo de negócio da propaganda, e pra minha imensa tristeza, vão abandonando o barco.

Uma vez alguém me disse que pra ser bem sucedido naquilo que você faz, é importante ter referências, ter profissionais que você possa admirar. Nos últimos anos, aqueles caras que sempre achei fodões, estão saindo do jogo. Estou perdendo as referências. A pluralidade dos meios digitais não me permite identificar outros.

Uma série de fatos fortalecem a insegurança. A propaganda vem perdendo o brilho. Quando entrei na faculdade de PP, em 2004, eu assistia a todos os comerciais premiados em Cannes e ficava absolutamente entusiasmado com aquilo. Agora percebo que a indústria da propaganda, como via escrito nos artigos, já não seduz tanto novos talentos. Contribui com isso a remuneração baixa, projetos cada vez mais focados em custos, ambiente de trabalho pouco estimulante, rotina desgastante, mercado em recessão e por aí vai.

Os novos criativos, independente do departamento que poderiam trabalhar dentro da agência, agora preferem as startups, as novas empresas de tecnologia, de games, de storytelling, de conteúdo. Criou-se a ideia de que nesse mercado se pode errar, que isso faz parte do processo. Essa visão está intrínseca nessa geração que acredita que isso é normal. A possibilidade de testar diferentes campanhas, diferentes artes até achar uma que parece dar resultado, criou esse ambiente. A publicidade como a conhecemos não nos permite isso. Ser publicitário agora está ficando careta. Nesse ponto, sou um careta assumido.

Ouvindo o Braincast 190 – Você está sendo substituído por um robô, percebi que muitas áreas da agência poderão (e vão) ser substituídas por máquinas, que farão um trabalho melhor, com menos custos e mais efetividade. Até a criação de anúncios [imagina, a criação] está sendo afetada. Há robôs fazendo trabalho criativo, cruzando dados de histórico e repertório. Sabe aquele repertório que precisamos para criar boas ideias? Pois, é. A Máquina tem capacidade infinitamente maior que a nossa de guardar tudo isso. Aquela frase “Nada substitui uma grande ideia” nunca foi tão colocada na berlinda como agora.

Mesmo às vezes sendo cético e acreditando na tal da ideia, da sacada, não posso ignorar.
É hora de pensar, refletir e estudar. É hora de inovar, criar alternativas e superar. Mudar a gestão, os formatos de trabalhos, os modelos, as filosofias. Surfar a onda e não ser engolido por ela.

Nesses novos tempos a pergunta é: Como as agências podem continuar eficientes, relevantes e sustentáveis?



Referências:

Braincast 190: http://www.b9.com.br/64830/podcasts/braincast/braincast-190-voce-esta-sendo-substituido-por-um-robo/