segunda-feira, 16 de maio de 2016

A propaganda e suas incertezas

Desde quando ingressei nesse maluco e encantador mundo da propaganda, há uns 12 anos, venho percebendo as inúmeras mudanças que o mercado vem sofrendo. É um tempo muito pequeno, porém, já percebi muitas alterações de cenário. O fortalecimento da mídia na internet foi basicamente nesse período. Já vi a ascensão e morte do pop up, dos banners, do bate papo do Uol, da AOL, do Napster, do Orkut, do MSN do ICQ de alguns importantes portais de acesso, do Cadê, dos sites de balada, e por aí vai. Meus primeiros sites eram feitos em html puro. Escrevia todo o código só pra depois ver o resultado.

Nesse período, a publicidade e propaganda foi fortemente afetada pelo avanço das novas mídias, mas principalmente pelo comportamento do consumidor.

O modo de se fazer propaganda e se comunicar com os clientes mudou, e mudou muito. Nesse tempo já ouvi diversos profetas do apocalipse gritando que a internet acabaria com a mídia tradicional, que isso e aquilo. Ainda acho que isso ainda levará tempo a acontecer, se é que vai, mas as incertezas começam a ficar maiores.

Hoje a principal preocupação do setor não é mais a grande ideia, que foi o que sempre pautou esse mercado, mas sim, como sobreviver às mudanças, como não sair do jogo, ou melhor, ser jogado para fora dele.

O modelo, até hoje consagrado, da publicidade brasileira é posto em xeque. O formato de remuneração das agências dá claros sinais de desgastes, e o pior, as agências não sabem como fazer diferente. Num recente relatório da Fenapro (sugiro a leitura, link nas referências), esse medo é mostrado da maneira mais crua que se possa imaginar. As mudanças no mercado reforçam isso. Marcello Serpa deixando a Almap, Justus vendendo todas as suas ações da Newcomm, Celso Loducca vendendo sua parte na Loducca, e a última notícia que vi foi Fábio Fernandes preparando terreno para venda de suas ações da F/Nazca. Isso poderia parecer normal, mas não é. As principais lideranças do setor nas últimas décadas, premiadíssimas e com carreiras de absoluto sucesso, vêm repensando o modelo de negócio da propaganda, e pra minha imensa tristeza, vão abandonando o barco.

Uma vez alguém me disse que pra ser bem sucedido naquilo que você faz, é importante ter referências, ter profissionais que você possa admirar. Nos últimos anos, aqueles caras que sempre achei fodões, estão saindo do jogo. Estou perdendo as referências. A pluralidade dos meios digitais não me permite identificar outros.

Uma série de fatos fortalecem a insegurança. A propaganda vem perdendo o brilho. Quando entrei na faculdade de PP, em 2004, eu assistia a todos os comerciais premiados em Cannes e ficava absolutamente entusiasmado com aquilo. Agora percebo que a indústria da propaganda, como via escrito nos artigos, já não seduz tanto novos talentos. Contribui com isso a remuneração baixa, projetos cada vez mais focados em custos, ambiente de trabalho pouco estimulante, rotina desgastante, mercado em recessão e por aí vai.

Os novos criativos, independente do departamento que poderiam trabalhar dentro da agência, agora preferem as startups, as novas empresas de tecnologia, de games, de storytelling, de conteúdo. Criou-se a ideia de que nesse mercado se pode errar, que isso faz parte do processo. Essa visão está intrínseca nessa geração que acredita que isso é normal. A possibilidade de testar diferentes campanhas, diferentes artes até achar uma que parece dar resultado, criou esse ambiente. A publicidade como a conhecemos não nos permite isso. Ser publicitário agora está ficando careta. Nesse ponto, sou um careta assumido.

Ouvindo o Braincast 190 – Você está sendo substituído por um robô, percebi que muitas áreas da agência poderão (e vão) ser substituídas por máquinas, que farão um trabalho melhor, com menos custos e mais efetividade. Até a criação de anúncios [imagina, a criação] está sendo afetada. Há robôs fazendo trabalho criativo, cruzando dados de histórico e repertório. Sabe aquele repertório que precisamos para criar boas ideias? Pois, é. A Máquina tem capacidade infinitamente maior que a nossa de guardar tudo isso. Aquela frase “Nada substitui uma grande ideia” nunca foi tão colocada na berlinda como agora.

Mesmo às vezes sendo cético e acreditando na tal da ideia, da sacada, não posso ignorar.
É hora de pensar, refletir e estudar. É hora de inovar, criar alternativas e superar. Mudar a gestão, os formatos de trabalhos, os modelos, as filosofias. Surfar a onda e não ser engolido por ela.

Nesses novos tempos a pergunta é: Como as agências podem continuar eficientes, relevantes e sustentáveis?



Referências:

Braincast 190: http://www.b9.com.br/64830/podcasts/braincast/braincast-190-voce-esta-sendo-substituido-por-um-robo/