sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Paradigmas Publicitários - Horário e Produtividade


Recentemente tenho acompanhado algumas discussões sobre os horários dos publicitários. Em geral, a discussão envolve quase sempre os profissionais de criação. Não que os outros departamentos não façam horários alternativos, porém, a questão de virar noite, procrastinar jobs etc está diretamente ligada ao mítico departamento de criação.

Apesar de ter uma opinião formada sobre o assunto, adoro acompanhar os argumentos que cercam o debate, de ambas as partes. Só lamento por não ter muito participação de clientes. Acredito que contribuiriam, e muito, com o olhar de quem está fora do processo.
Pizza, publicidade, café e horários malucos estão totalmente ligados. Criou-se um paradigma: “Não se pode considerar publicitário quem não faz uso de todos esses elementos”. Muitas vezes isso acontece tudo ao mesmo tempo.

Ah, tem também aquela história de que publicitário tem que ser moderninho, andar largado, ser hipster e tudo mais.

Pois bem. Sou planner, pelo menos me acho, e tenho uma visão um pouco diferente disso tudo.
A questão de ficar até mais tarde, não cumprir horário etc está se tornando uma regra nas agências. O fato de alguém ir embora no horário causa estranheza e, às vezes, até soa como falta de comprometimento. Mas me convença: Se eu posso focar no trabalho e entregar tudo no tempo programado, por que diabos tenho que ficar rodando noite?

Tenho até um pensamento que, como planner, tenho que fazer valer o departamento escolhido e me planejar. Se o planner não consegue se planejar, imagino como ele pensa nas campanhas dos clientes. Não digo que não posso, uma vez ou outra por necessidade, ficar até mais tarde. Isso faz parte do jogo, porém a exceção não pode virar regra, o que aconteceu com a criação.

Com relação a horários alternativos, tipo, o cara chega na agência a hora que ele quiser, também divirjo da maioria. Não vejo a criação como processo isolado, e sim, como uma composição. As criações devem ter um olhar de planejamento, devem ser acompanhadas pelo atendimento e devem atender os objetivos da mídia. Como pode o criativo fazer a peça às 4 da manhã, e o atendimento ver somente às 9h? e se houver necessidades de mudança?  

Toda agência deve trabalhar como um time. Pode ser que nas grandes agências o diretor de criação assuma a bronca do resto da equipe e faça essa ponte, porém, essa realidade está longe do nosso modesto interior.
Analiso também, que ninguém consiga produzir bem após 14, 16, 20h de trabalho. O cara morrendo de sono não pode ter um insight legal, um acabamento bonito. Não dá.

Uns culpam os clientes, outros culpam a criatividade, outros a agência, outros o sistema. A questão é se acharmos que tudo é certo, que a profissão exige isso, ficaremos escravos, não conseguiremos ampliar nosso repertório, limitaremos nossa visão. Como poderemos alimentar nosso bem mais precioso, a tal da criatividade?

Estamos num período mágico para as agências. O final do ano é sempre de um volume maior de trampo, de valorização e correria total. Se alguém conseguir me mostrar que preciso pegar mais leve e ficar até tarde, ou apontar algum job que não entreguei talvez eu tope em ficar até as 19h. Fora isso, continuo pegando minha mochila e meu fone de ouvido e vazando as 18h30, religiosamente.