Recentemente tenho acompanhado algumas discussões sobre os
horários dos publicitários. Em geral, a discussão envolve quase sempre os
profissionais de criação. Não que os outros departamentos não façam horários
alternativos, porém, a questão de virar noite, procrastinar jobs etc está
diretamente ligada ao mítico departamento de criação.
Apesar de ter uma opinião formada sobre o assunto, adoro
acompanhar os argumentos que cercam o debate, de ambas as partes. Só lamento
por não ter muito participação de clientes. Acredito que contribuiriam, e
muito, com o olhar de quem está fora do processo.
Pizza, publicidade, café e horários malucos estão totalmente
ligados. Criou-se um paradigma: “Não se pode considerar publicitário quem não faz
uso de todos esses elementos”. Muitas vezes isso acontece tudo ao mesmo tempo.
Ah, tem também aquela história de que publicitário tem que
ser moderninho, andar largado, ser hipster e tudo mais.
Pois bem. Sou planner, pelo menos me acho, e tenho uma visão
um pouco diferente disso tudo.
A questão de ficar até mais tarde, não cumprir horário etc
está se tornando uma regra nas agências. O fato de alguém ir embora no horário
causa estranheza e, às vezes, até soa como falta de comprometimento. Mas me
convença: Se eu posso focar no trabalho e entregar tudo no tempo programado,
por que diabos tenho que ficar rodando noite?
Tenho até um pensamento que, como planner, tenho que fazer
valer o departamento escolhido e me planejar. Se o planner não consegue se
planejar, imagino como ele pensa nas campanhas dos clientes. Não digo que não posso,
uma vez ou outra por necessidade, ficar até mais tarde. Isso faz parte do jogo,
porém a exceção não pode virar regra, o que aconteceu com a criação.
Com relação a horários alternativos, tipo, o cara chega na
agência a hora que ele quiser, também divirjo da maioria. Não vejo a criação
como processo isolado, e sim, como uma composição. As criações devem ter um
olhar de planejamento, devem ser acompanhadas pelo atendimento e devem atender
os objetivos da mídia. Como pode o criativo fazer a peça às 4 da manhã, e o
atendimento ver somente às 9h? e se houver necessidades de mudança?
Toda agência deve trabalhar como um time. Pode ser que nas
grandes agências o diretor de criação assuma a bronca do resto da equipe e faça
essa ponte, porém, essa realidade está longe do nosso modesto interior.
Analiso também, que ninguém consiga produzir bem após 14, 16,
20h de trabalho. O cara morrendo de sono não pode ter um insight legal, um
acabamento bonito. Não dá.
Uns culpam os clientes, outros culpam a criatividade, outros
a agência, outros o sistema. A questão é se acharmos que tudo é certo, que a
profissão exige isso, ficaremos escravos, não conseguiremos ampliar nosso
repertório, limitaremos nossa visão. Como poderemos alimentar nosso bem mais
precioso, a tal da criatividade?
Estamos num período mágico para as agências. O final do ano
é sempre de um volume maior de trampo, de valorização e correria total. Se
alguém conseguir me mostrar que preciso pegar mais leve e ficar até tarde, ou
apontar algum job que não entreguei talvez eu tope em ficar até as 19h. Fora
isso, continuo pegando minha mochila e meu fone de ouvido e vazando as 18h30,
religiosamente.